Sala de embarque
- Linda Queiroz

- 24 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de nov. de 2024
Procurava um lugar para sentar, quando a vi: estava sentada, costas eretas, folheando um livro enquanto apreciava um copo com café fumegante. Não sei quanto tempo fiquei ali, mas acredito que ela sentiu que alguém a observava. Moveu a cabeça e seus olhos me encontraram e me fitaram pelos segundos mais longos de nossas vidas.
Eu sorri. E aguardei que ela fizesse o mesmo.
Naqueles eternos segundos, senti que um filme rodava em seu olhar.
Eu tringulava entre seus olhos e lábios, procurando um sorriso. Após uma longa espera, ele se formou de canto, discretamente.
Aproximei-me, confiante, cumprimentei-a e perguntei se poderia lhe fazer companhia, desconsiderando até mesmo que ela já poderia ter. Ela assentiu delicadamente.
Larguei minha pequena bagagem aos meus pés e me aproximei, cumprimentando-a com um beijo na bochecha direita. Acho que assustei-a, senti uma rigidez em seus movimentos. Não importa. Meu coração pulsava acelerado.
Quantas coisas eu queria lhe dizer...
Mas queria olhá-la mais um pouco: ela não mudara tanto, tinha as mesmas linhas heterogêneas dos anos passados. Sobrancelhas levemente arqueadas. O arco do coração de seus lábios perfeitamente desenhados. Estava maquiada, não que precisasse. Seu estilo, no entanto, estava diferente. Mais sóbrio, vestia um casaco preto estruturado, com um pequeno broche dourado brilhando na lapela esquerda.
Meu telefone tocou e cortou minha atenção. Um minuto passou e eu ainda não conseguia falar uma palavra.
Por fim, falei da coincidência de nos encontrarmos ali - entre o norte e o sul - no meio de tudo. Ela concordou.
E falamos sobre o futuro que veio depois do nós.
Contei dos meus negócios, como estavam indo bem, como tinha conseguido construir um sólido empreendimento, das viagens que fiz, dos países que conheci, da casa que comprei. Mostrei algumas fotos para ela. Ela viu e parabenizou-me por todas as conquistas. Disse o quanto era merecedor. Seu sorriso era acolhedor, e aquilo confortou-me.
Perguntei sobre ela e contou-me das mudanças, de suas realizações profissionais e que, inclusive, estava viajando a trabalho.
Eu sorri também, vi felicidade em seus olhos e genuinamente fiquei feliz por ela.
Um curto silêncio se formou.
Eu ia perguntar sobre nós. Mas fui interrompido pelos altos falantes que anunciaram seu voo.
"Está na minha hora." disse ela.
"Já?!" eu tinha tanto para perguntar, tanto para lhe falar...
Ela levantou e segurando alça de sua mala disse "Sim. Não posso perder esse voo..." Se aproximou de mim e abraçou-me.
Seu abraço foi quente e caloroso. Eu retribui. Queria fazer morada dela ali em meus braços. Queria que ali ficasse para sempre. Cheirei seus cabelos. O mesmo cheiro de sempre. E tive a impressão que ela inspirou e suspirou profundamente em meu peito.
Se afastou "Foi bom falar com você. Que bom que está bem. Se cuida..."
"Tu também..."
Deu meia volta e partiu. Logo a multidão afoita em busca do portão de embarque a engoliu. Ela sumiu do meu campo de visão.
E se foi, deixando um pouco de seu cheiro na minha camisa, que logo sumiria.
Logo o tempo levaria também isso embora.



Adorei a leitura !!! Uma pena que o encontro foi tão breve!!