O dia ímpar
- Linda Queiroz

- 9 de mar.
- 2 min de leitura
Atualizado: 8 de ago.
Março sempre fora um mês complicado para meus pais: início de ano, os clientes endividados pelas festas de fim de ano atrasando os pagamentos, eles mesmos com contas acumuladas, logo, festejar meu aniversário era raridade.
É bem verdade que eu recordo de apenas duas comemorações: dos meus quatro e dos oito anos. Não tive a tradicional festa de quinze anos, que toda menina sonha em ter, por exemplo. Acho que na época eu sonhava com isso. Pode ser que esteja sendo injusta. Mas, se estiver, em minha defesa, eu afirmo que nenhum registro, nenhuma foto, de nenhuma outra festa minha, fora feito. Não estou condenando meus pais. Certamente se pudessem teriam feito algo.
Depois dos vinte anos eu lembro que passei a comemorar de alguma forma. Nada extravagante também, meu temperamento e os recursos limitados contribuíam para isso.
Uma vez, nos vinte e dois, eu ganhei uma festa surpresa de três amigos. Lembro da minha felicidade pela lembrança que tiverem. Senti-me especial como poucas vezes.
Mas, não me sentia à vontade... Sempre ficava sem jeito na hora do parabéns e, por alguma razão, eu achava que não merecia aquilo.
Continuo achando, até hoje, para ser sincera.
Tenho o pensamento que, no fim, eu nunca tive uma festa de aniversário do jeito que eu queria.
Não sei explicar, parece que falta algo.
Talvez seja melancolia que aflora em mim nesta data.
A verdade é que exijo muito de mim mesma. E, mesmo exigindo, ainda não correspondi às minhas próprias expectativas.
Faz sentido isso? Eu espero faça, na verdade.
Ainda que pouca, tenho uma esperança que aparece, eventualmente. Não é lá das mais robustas. Meio frágil. Não gosta de admitir, mas precisa de cuidado para resistir.
Um ano mais e deles algumas conquistas, algumas perdas, alguns sonhos.
Desses anos vividos, infinitas reflexões, algumas conclusões, poucas certezas.
Dessas certezas: o que quero, o que busco, quem eu busco.
Tem tempo.



Comentários