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CARDUME I

  • Foto do escritor: Linda Queiroz
    Linda Queiroz
  • 14 de out.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 15 de out.

Se conheciam há mais anos do que ela conseguia lembrar. Sempre tivera por ele admiração profissional. Nada mais, no entanto, por um bom tempo.

Por muitos anos, a relação era profissional e a admiração - mútua - era profissional. 

Contudo, após algum tempo, começou a perceber que a gentileza dele era diferente com ela. Percebia o modo como ele pronunciava seu nome. Percebia que, cada vez mais, um sutil interesse, dele por ela, era manifestado.


Além da admiração, começou a existir atração. Uma vontade. Um querer.


Ela estava confusa também: de repente um turbilhão de sentimentos começou a tomar conta dela e de seus pensamentos.


Era um homem mais velho, colega de anos e - de forma mais singela - um amigo. 

E se não gostasse do seu beijo? E se o convívio ficasse esquisito? E se perdesse o amigo?


Ela não lembra ao certo quantas vezes precisou ser convidada e menos ainda quantas vezes havia recusado. A paciência dele fora colocada à prova: teve e esperou.


Um dia, favorecido talvez pelo alinhamento dos astros, ela aceitou. Não estava certa, mas algo a mais a fez aceitar.


No dia, escolheu um vestido que fosse elegante, feminino, sensual na medida. Algo que sabia que ele iria gostar. Maquiou-se, coloriu os lábios e perfumou os cabelos.


Estava muito nervosa. Estava muito perto de fazer algo totalmente novo em sua vida.


Pontualmente, ele chegou para buscá-la.


Nada escapava de seu olhar: como colocou sutilmente a mão dele na curva de suas costas ao entrar - talvez com receio. Como tomava a frente na escolha da mesa, como a conduzia…

E, ao mesmo tempo que liderava, também deixava livre para que ela escolhesse, ela pedisse, ela fizesse o que desejasse.

A princesa, que nunca fora antes, estava ali existindo.


No restaurante, olhos nos olhos, entre uma e outra taça de vinho, foi o momento de conhecer mais do homem que queria conhecê-la. Um momento para conhecer um lado que nenhum dos dois havia exposto - entre si - antes: o de homem e mulher.


Tiveram a oportunidade de contar histórias, rir, descobrir vulnerabilidades.


Tiveram o primeiro beijo. Ela conseguiu sentir uma respiração um pouco nervosa, quase ofegante, vindo dele. 

Talvez euforia misturada com medo de algo sair errado. Ela entregou-se naquele beijo. 

Tinha seus medos também. 

E se fosse ruim? Não foi.

E se fosse muito bom? …


O cheiro dele logo ficou em suas mãos. Na sua memória.


Suas robustas mãos a seguravam, a conduziam. As mãos a faziam sentir-se segura de forma holística


Encostados com a cabeça no travesseiro, a voz dele começava a deixá-la sem forças, relaxada, com sono. Mais próximo dele ela ficou. 

Enroscada em seus braços, ela ouviu murmúrios proferidos por ele.

Confissões. 

Ele, por fim, abriu o coração.

O dela parou.


 
 
 

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