E quando eles não voltarem (?)
- Linda Queiroz

- 10 de jan.
- 2 min de leitura
Atualizado: 8 de ago.
Há poucos dias, antes de pegar no sono, e por uma razão que não sei realmente explicar, eu pensei na morte.
Não na minha, apesar de vez ou outra pensar nisso também, mas na dos meus pais.
Quando penso na morte deles, sempre visualizo eles "indo" já bem velhinhos (mesmo que nem consiga imaginá-los idosos enrrugadinhos e com cabelos brancos ou sem cabelo, no caso do meu pai).
Pensei na partida deles de forma "inesperada", quando ela vem na forma de um acidente, por exemplo.
"E se um dia eu saio para trabalhar e quando volto eles não estão mais aqui?" Se estranho a ausência deles… E se, logo em seguida, recebo uma ligação?” A ligação que ninguém quer receber…
Hoje eu recebi a ligação…
Não, não tenho o dom da premonição. Mas acredito que tenho sensibilidade para absorver (de maneira não intencional) os acontecimentos que me cercam de alguma forma (seja o aniversário de 60 anos de minha mãe, sejam as atualizações sobre este ente querido que sofria por uma terrível doença).
A morte, não ironicamente, faz parte da vida. Alguém da família partiu. Era e não era esperado, mas, certamente, não era querido.
Ainda que já saiba que esta é a única certeza que temos na vida, eu sempre pensava que seria forte "Já estou preparada.".
Não estamos, realmente. Nunca estaremos.
Pensar o que farei com as roupas, e com o cheiro que ficará ainda por muito tempo nos lençóis, e com os bombons que minha mãe esconde na gaveta, e com coleção de facas de meu pai que começa a oxidar…? Ao imaginar dois caixões, seus corpos pálidos, a casa vazia, a mesa do café solitária, os animais sentindo que falta alguém ali e que eles não voltarão mais…
Um aperto no peito, um nó na garganta e algumas lágrimas no travesseiro.
Se a ordem natural da vida for seguida, um dia isso vai acontecer.
Deus, no quarto mandamento, nos pede para “Honrar pai e mãe”. Honrar sempre, em vida ou quando ela aqui acaba.
Às vezes somos tomados pelas mágoas, ressentimentos e deixamos que eles nos guiem.
Reduzimos o carinho, a atenção, já não temos tempo nem paciência.
“Amanhã eu faço, amanhã eu ligo, amanhã eu visito, amanhã eu abraço, amanhã eu digo Te amo…”
Às vezes, o amanhã não chega.
E uma casa sem vida estará lá para nos receber.



Lindo texto ❤️
Lindo e cirúrgico!!!